31 Jan 2010

torre de babel

Eis aqui um poema de Carlos Tronco Mondeville sobre a mítica torre, vertido para interlíngua.

Torre de Babel

Uma torre, só é torre, se for alta
E alta só é, se não cair
Não basta ao Altíssimo pedir
É no chão, que a altura começa

Primeiro há que cavar; ventre materno (Pacha Mama)
A terra, que a todos dá o seu pão
Cavar deixa o seu traço, em cada mão
É na profundidade da cova que nasce o engenho

Alicerces sólidos, fé e alguma arte
Podem os muros da torre, então subir
E sólidos como o amor, já ninguém parte

Sonhamos que a nossa torre toca o céu
Esquecendo a triste história de Babel
Sonhamos levantar um dia o leve, véu.

Carlos Tronco Mondeville 08/02/06

---ia---ia---ia---ia---ia---ia---ia---ia---ia---ia---ia---ia

Turre de Babel

Un turre lo es solmente si illo es alte
E alte illo lo es solmente si non cader
Il non suffice al Altissimo peter
Es in le solo que le altor comencia

Primo il es necesse cavar; gastro materne (Pacha Mama)
Le terra que a omnes da su pan
Cavar lassa su tracia in cata mano
Es in le profunditate del cavo que nasce le ingenio

Bases solide, fide, e alicun arte
Pote tunc le muros del turre scander
E solide como le amor jam nemo parte

Nos sonia que nostre turre tocca le celo
Oblidante le triste historia ab Babel
Nos sonia un die levar le leve velo

30 Jan 2010

abc

A interlíngua escreve-se com as 26 letras do alfabeto latino, sem diacríticos.
§1. The LETTERS used are the conventional twenty-six letters of the roman alphabet. There are no extra signs and symbols to indicate stress and pronunciation.


ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ
abcdefghijklmnopqrstuvwxyz

Quanto à norma de pronunciação, Gode e Blair, os autores de Interlingua Grammar (da qual se faz aqui a transcrição do Capítulo «Spelling and Pronunciation), dizem que é «continental» (afastando-se, assim, das idiossincrasias do inglês), e sendo fluido o valor fonético das letras (embora com amplitudes variáveis, deve-se ter alguma atenção...). Chamam ainda a atenção para a influência que um som pode ter de acordo com o fone vizinho e também para a influência que os hábitos pessoais poderão ter na pronúncia.
§2. The NORM OF PRONUNCIATION is "continental". The sound values of the various letters are fluid within type limits. They may be naturally influenced by neighboring sounds as also by native habits of individual speakers. For instance, the sound of u - described in the phrase, "like u in 'plural'" - may well be pronounced like oo in "good" or in "loom" but not like u in "stutter" or in French "lune".

Por outro lado, deve prestar-se atenção também ao modo como se pronunciam as vogais não acentuadas (tonicamente) e, em especial, a pronunciação do «e» final.
§3. The tendency of English speakers to obscure unstressed voewls, making them all sound like a in "China", should be guarded against. This applies particularly to final e. No sound, final or otherwise, unstressed or stressed, should be undully slurred over.

A pronúncia normal do inglês, como de várias outras línguas, está de acordo a pronúncia da interlíngua no que respeita às seguintes letras e dígrafos: b, d, f, k, l, m, n, p, ph, qu, v, w e z. As particularidades das restantes letras e dígrafos serão analisadas mais detalhadamente à frente, de acordo com as regras definidas por Gode e Blair e tendo como fonte de controlo a pequena, mas assaz importante, gramática do recém-falecido Karel Wilgenhof.
§4. The normal English pronunciation agrees with that used in the interlingua for the letters b, d, f, k, l, m, n, p, ph, qu, v, w, and z. The remaining letters are covered by the following rules and observations:

a is always pronounced like a in English 'father';
c before e, i, y is pronounced like ts in 'hats' (or, optionally, like c in 'city'); otherwise like c in 'cats'; ch like ch in 'echo', 'chrome';
e always like e in 'met' or, better, like é in French 'risqué';
g like g in 'good';
h as in English (or, optionally, silent); after r and t, silent;
i normally like i in 'machine'; when unstressed before a vowel, like i in 'onion' or in 'phobia'); e.g. bile, biliose, varie;
j like z in 'azure' (or, optionally, like g in 'gem' or like y in 'yes');
o always like o in 'obey';
r like rr in 'merry' or, better, like r in Spanish 'caro';
s like s in 'stay'; between vowels, the same (or, optionally, like s in 'these'); e.g. sparse, abstruse, accusativo;
t as in English; ti before vowels, unless stressed or preceded by s, like tsy in 'he gets you' (or, optionally, like sy in 'we pass you' or like ty in 'we let you'); e.g. actor, garantia, question, but action, reverentia;
u normally like u in 'plural'; when unstressed before a vowel, like u in 'persuade' or in 'superfluous'; e.g. plural, persuader, superflue;
x like x in 'fox'; between vowels, the same (or, optionally, like x in 'exact');
y unstressed before vowels, like y in 'yes'; otherwise like i in 'machine'; e.g. Yugoslavia, typo.


As vogais mantêm o valor dos seus sons próprios quando formam ditongos; no entanto, devem-se ter em atenção algumas excepções.

§5. In DIPHTHONGS the vowels retain their independent sound values. The diphthong ai is pronounced as in "kaiser", au as in "kraut". Stressed e and i are separated by a syllabic break [hiatus] from a following a, e, o; e.g. mie, io, spondeo, via, bastardia. Unstressed i and u turn into semiconsonants before a following vowel; e.g. Bulgaria, filatorio, persuader.

Se se usar o chamado estilo ortográfico clássico, não há necessidade de se escreverem consoantes duplas como bb, dd, ff, mm, nn ou pp; porém, os dígrafos cc e ss devem ter uma atenção especial.
§6. DOUBLE CONSONANTS merge in pronunciation. The double consonant ss is always voiceless like ss in "miss". The sounds of g and k assimilate a preceding n as in english. Note that the double consonant cc is spelled c at the end of a word (siccar but sic).

Ainda sobre a pronunciação de palavras que se desviam das regras anteriores, os autores da IG dão mais alguns exemplos de palavras com dígrafos e remetem para as indicações dos casos particulares que se encontram no IED (Interlingua-English Dictionary).
§7. Pronunciations deviating from these norms are indicated in the Interlingua-English Dictionary by a system of respelling in which the letters have the same sound values as in interlingua. The digraph ch stands frequently for the sound of sh in "English" and is respelled as sh; e.g. choc (sh-). The combination gi often represents the sound of z in "azure" and is respelled as j; e.g. avantagiose (-ajo-). Simple g has this sound and hence this repselling in the suffix -age; e.g. avantage (-aje).

Para os interessados nestes desvios ortográficos, transcreveu-se o §137 da IG.
§8. ON ORTHOGRAPHIC CHANGES IN DERIVATION, SEE §137 BELOW.
§ 137. In most instances the joining of stem and affix is a mattar of simple juxtaposition. When de stem ends in -i- and the suffix begins with the same vowel, the full derivative is spelled with only one -i-: rubie "red" plus -ificar > rubificar "to redden, make red."
Note that the addition of suffixes with initial vowels to stems ending in -c- may change the sound value of that consonant. When through derivation an originally hard c (as in franc) comes to preced i or e, its pronuntiation changes as a rule to soft c (as in Francia). Inversely, when an optionally soft c (as in cortice "bark") comes through derivation to precede an a or o, its pronunciation changes as a rule to hard c (as in cortical). However, a soft c remains soft c before the suffixes -ada, -ata, -age, -alia, -astro, -astra and must be spelled -ci-: nuce ("nut") plus -ada > nuciada. Similarly hard c remains hard c before the suffixes -eria, -ero, -esc, -ese, -essa, -etta, -ette, -etto, -iera, -iero, -issime, -issimo and must be spelled -ch-: porco ("pig") plus -eria > porcheria ("pork shop").
Note that the seeming irregularity of an example like ricchessa ("richess") < ric ("rich") is due to the fact that cc is spelled c when it appears at the end of a word.
Words ending in -age (whether this group of sounds be a suffix or not) retain the soft pronuntiation of -g- (like z in azure) in derivatives based on them. When the suffix begins in a or o the g is replaced by -gi-: orange plus -ada > orangiada; but orange plus -eria > orangeria "orange greenhouse".

A Gramática é bastante clara sobre as palavras estrangeiras: a sua pronunciação é (deverá ser) a mesma que elas possuem nas suas línguas originais. A sua grafia pode ser a grafia original ou, em alguns casos, podem perder os sinais diacríticos. [Exemplos: pt «autodefé» (por auto-de-fé), es «cañon», fr «à la carte», de «kümmel», mas «elite» (fr «élite»)]
§9. Unassimilated "GUEST WORDS," that is, foreign or borrowed words which are identified in the Interlingua-English Dictionary as to their origin, retain the pronunciation and spelling of the language of origin. The original diacritical signs are omitted when the resulting simplified spelling suffices to suggest the intended pronunciation; e.g. defaite for French défaite, but kümmel as in German.

Quanto à acentuação das palavras em interlíngua, deve prestar-se atenção a alguns desvios à norma, que consiste em colocar o acento tónico na vogal anterior à última consoante.
§10. The main stress is normally on the vowel before the last consonant. The plural ending does not change the original stress of the word. Adjectives and nouns ending in -le, -ne, and -re preceded by a vowel have the stress on the third syllable from the end; e.g. fragile, ordine, tempore. In words formed with the suffixes -ic, -ica, -ico, -ide, -ido, -ula, and -ulo, the stress falls on the syllable preceding the suffix. The suffixes -ific and -ifico are stressed on the first i.

Deviations from this stress system are covered in the Interlingua-English Dictionary by respelling with stress marks. Most of this deviations might be covered by additional descriptive rules. For instance, the suffixes -issim-, -essim-, -ifer-, and -olog- are stressed on the first vowel. The suffixes -ia, and -eria, in so for as they correspond to english -y and -ery, are stressed on the vowel i; etc.

Note: Words without consonant or without a vowel before the last consonant are stressed of necessity on the first vowel; i.e. io, via, and certain present-tense forms, as strue, crea, etc. But construe, procrea, etc. And also diminue, substitue, etc. follow the standard rule and have the stress on the vowel before the last consonant.

Aconselha-se a não exagerar nas regras de acentuação, sublinhando-se, todavia, que elas não devem ser deixadas ao acaso do gosto pessoal (embora em algumas situações os falantes se possam compreender bem uns aos outros, mesmo pronunciando uma palavra acentuada de uma maneira que não segue as prescrições dos autores da IG).
§11. The importance of stree regularity should not be exaggerated. The effort involved in acquiring an unfamiliar stress for an otherwise familiar word seems often inordinate. This does not, of course, imply that interlingua words may be stressed completely at random but merely that a word like kilometro remains the same international word whether native habits cause a speaker to stress it on the second or on the third syllable.

De igual modo, há situações em que é permitido que os hábitos pessoais prevaleçam em questões de entoação, duração do som da cadeia fónica, e outras. Neste ponto fornece-se, também, a sugestão quanto ao uso de glides.
§12. Native habits may likewise be allowed to prevail in questions of INTONATION, SOUND DURATION and the like. It is suggested, however, that the sequence of a final and an initial vowel, both unstressed and not separeted by a pause in intonation, be pronounced as a combened glide; e.g. le Alte ural almost as though it had the four syllables le-ál-teu-rál.

A silabação segue as regras da pronúncia normal, embora com algumas observações.
§13. SYLLABIFICATION follows pronunciation. Single consonants, except x, belong with the following syllable. Consonant groups are divided but l and r must not be separeted from preceding b, c, ch, d, f, g, p, ph, t, th, and v. The combination qu, gu, su behave like single consonantes.

A capitalização de palavras em interlíngua é diferente da maioria das línguas europeias. As letras maiúsculas quase que só são usadas em nomes próprios.
§14. CAPITALIZATION differs from English usage in that within the sentence upper-case initials occur exclusively with proper names but not with derivatives from them.


In Francia le franceses parla francese ab le initio de lor vita.
In France the French talk French from the start of their lives.
Em França os franceses falam francês desde o início das suas vidas.

Le piscatores del Mar Morte cape haringos salate.
The fishermen on the Dead Sea catch salt herrings.
Os pescadores do Mar Morto pescam arenques salgados.


Le ver stilo shakespearean se trova solmente in Shakespeare.
The true Shakespearean style is found only in Shakespeare.
O verdadeiro estilo shakesperiano só se encontra em Shakespeare.

No entanto, de acordo com algumas outras situações a capitalização também pode ser usada em designações com sentido histórico.
Since sacred terms, the names of religious and other holidays, designations of movements, eras, doctrines, etc. may be considered proper or common names, they are capitalized or not, depending on the meanining intended.


Le romanticismo de Hollywood es subinde insipide.
The romanticism of Hollywood is often insipid.
O romantismo de Hollywood é frequentemente insípido.


Le philosophia del Romanticismo cerca le reunion de sciencia e religion.
The phylosophy of Romanticism seeks the reunion of science and religion.
A filosofia do Romantismo procura a reunião da ciência com a religião.

As regras que se seguem não se encontram no Interlingua-English Dictionary e são regras simplificadas de acordo com o que vimos anteriormente.
§15. COLLATERAL ORTHOGRAPHY - The following rules, not observed in the Interlingua-English Dictionary, yield a simplified system of equal standing with that outlined in the preceeding paragraphs. All points not specifically covered below are to be kept unchanged; so for instance the treatment of unassimilated guest words whose orthography remains that used in the Interlingua-English Dictionary.

(a) Double letters representing a single consonant are simplified with the exception of ss. Note that the group cc before e, i, and y does not represent a single consonant. E.g. eclesia, aliterar, aducer, interogar (for ecclesia, alliterar, adducer, interrogar) but massa, transsubstantiation, accidente).
(b) The vowel y is replaced by i; e.g. tirano (for tyrano). The semi-consonant y remains unchanged; e.g. yak.
(c) The digraph ph is replaced by f; e.g. fonetic, emphatic (for phonetic, emphatic).
(d) The digraph ch, representing the sound of k, is kept only before e and i. Elsewhere it is replaced by c. E.g. cloric, Cristo (for chloric, Christo) but chimeric.
(e) The silent h after r and t is omitted. E.g. retoric, patetic (for rhetoric, pathetic).
(f) The letter j replaces g and gi to represent the sound of z in 'azure.' E.g. sajo (for sagio).
(g) The suffix -age (also the sound group -age at the end of a word where it is not a suffix) is replaced by the form -aje; e.g. saje, coraje (for sage, corage). The suffix -isar is replaced by the form -izar. Its derivatives are likewise spelled with z. E.g. civilizar, civilization (for civilisar, civilisation).
(h) Final e is dropped after t preceded by a vowel except in words which have the stress on the third syllable from the end; e.g. animat, brevitat (for animate, brevitate) but composite. This rule applies likewise to final e after n, l, and r when these consonants are the collateral spelling for nn, ll, and rr; e.g. peren, bel, mel, il, bizar (for perenne, belle, melle, ille, bizarre). Note: Present-tense and imperative forms are not affected by this rule; pote, permite, etc. retain their final -e.

Embora a pontuação não tenha qualquer regra fixa, ela deve, contudo, obedecer ao ritmo da frase falada. Os sinais usados na pontuação da interlíngua são os mesmos da maioria das línguas europeias (i.e., «! ? , ; .», etc.) e os seus valores são os valores que possuem na língua inglesa.
§16. PUNCTUATION reflects the rhythm of the spoken sentence and obeys no absolute rules. The signs of punctuation and their general values are the same as in English. Interpolated phrases and relative and conjunctional phrases are enclosed in commas unless the intended rhythm permits no break. In enumeration of more than two items, the use of e "and" or o "or" before the last item does not eliminate the comma.

Le homine que vos vide es mi patre.
The man you see is my father.
O homem que (vocês) vêem é (o) meu pai.

Le homine, qui se considera como le corona del creation, pare plus tosto facite de metallo blanc que de auro.
Man, who considers himself the crown of creation, seems rather to be made of babbit than of gold.
O homem, que se considera a coroa da criação, parece mais feito de metal branco do que de ouro.


Le asino, le can, e le catto formava un pedestallo pro le gallo.
The donkey, the dog, and the cat formed a pedestal for the rooster.
O burro, o cão e o gato formavam um pedestal para o galo.

Es isto le canto del asino, del can, del catto, o del gallo?
Is this the song of the donkey, the dog, the cat, or the rooster?
Isto é o canto do burro, do cão, do gato ou do galo?

Le Statos Unite, Anglaterra e su imperio, e Russia es tres del grande potentias.
The United States, England and its empire, and Russians are three of the great powers.
Os Estados Unidos, a Inglaterra e o seu império, e a Rússia são três das grandes potências.

Ille es, pro expimer lo cortesemente, pauc intelligente.
He is, to put it politely, not very intelligent.
Ele é, para o exprimir cortesmente, pouco inteligente.

29 Jan 2010

aos poetas

Aos Poetas

Somos nós
As humanas cigarras.
Nós,
Desde o tempo de Esopo conhecidos...
Nós,
Preguiçosos insectos perseguidos.

Somos nós os ridículos comparsas
Da fábula burguesa da formiga.
Nós, a tribo faminta de ciganos
Que se abriga
Ao luar.
Nós, que nunca passamos,
A passar...

Somos nós, e só nós podemos ter
Asas sonoras.
Asas que em certas horas
Palpitam.
Asas que morrem, mas que ressuscitam
Da sepultura.
E que da planura
Da seara
Erguem a um campo de maior altura
A mão que só altura semeara.

Por isso a vós, Poetas, eu levanto
A taça fraternal deste meu canto,
E bebo em vossa honra o doce vinho
Da amizade e da paz.
Vinho que não é meu,
Mas sim do mosto que a beleza traz.

E vos digo e conjuro que canteis.
Que sejais menestréis
Duma gesta de amor universal.
Duma epopeia que não tenha reis,
Mas homens de tamanho natural.

Homens de toda a terra sem fronteiras.
De todos os feitios e maneiras,
Da cor que o sol lhes deu à flor da pele.
Crias de Adão e Eva verdadeiras.
Homens da Torre de Babel.

Homens do dia-a-dia
Que levantem paredes de ilusão.
Homens de pés no chão,
Que se calcem de sonho e de poesia
Pela graça infantil da vossa mão.

[Miguel Torga, in Odes]

interlíngua para orientais

De tempos a tempos ouvimos pessoas criticarem a interlíngua, dizendo que «é demasiado europeia para ser uma língua internacional». É verdade que a gramática da nossa língua é demasiado europeia e que o seu vocabulário, exceptuando poucas palavras – como mandarin, the, geisha, jujutsu, harakiri, zen, etc. –, é quase greco-latino na sua totalidade. No entanto, será a interlíngua um idioma apenas para a Europa? A resposta correcta é não. A interlíngua, apesar da origem europeia dos seus elementos, é capaz de desempenhar um papel extra-europeu.

Primeiro, deve-se ter em conta que a interlíngua é baseada em quatro línguas de controlo de uma elevada importância na civilização europeia: inglês, francês, italiano e espanhol (com o português), tendo o alemão e o russo como complementares. Daí, ser ideal como língua-ponte entre pessoas que falam estas línguas. Segundo, as línguas de controlo não se restringem ao seu uso europeu. As Américas não conhecem outras línguas para além do inglês, francês, espanhol e português. Também em África as línguas inglesa e francesa desempenham um grande papel e na Índia as pessoas cultas ainda usam o inglês depois de quarenta e dois anos após a concessão da sua independência da Grã-Bretanha. Na Austrália fala-se inglês como língua-materna. Portanto, uma língua greco-latina pode ser considerada como uma língua mundial.

Mas seria possível construir uma outra língua planificada fazendo concessões às línguas chinesa, japonesa, malaia e árabe? Isto é muito duvidoso. Entre a multidão de línguas auxiliares propostas no passado, quase todas possuem uma base europeia.

É verdade que o volapük tinha um ar exótico; no entanto, um exame atento das suas palavras demonstra que, embora horrivelmente mutiladas, elas são de origem europeia. Também o esperanto é completamente europeu: uma mistura de palavras francesas, inglesas e alemãs, com poucas palavras provenientes do russo, latim, grego, etc. Mesmo as palavras não familiares são, realmente, europeias. Por exemplo, edzo (marido), é uma retro-formação da palavras judaico-alemã rabedzin, e vostro (cauda) é o resultado da mutilação do russo kyost. A língua experimental interglossa, publicada em 1943, durante a II Guerra Mundial, pelo professor Lancelot Hogben, possuía um vocabulário greco-latino (especialmente grego), mas para agradar aos povos não europeus, ela tinha uma gramática e sintaxe artificial e muito engenhosa. Não sei se este sistema é fácil para os chineses, ma a verdade é que ele é difícil para os europeus, devido à impossibilidade de se traduzirem textos de qualquer língua europeia para interglossa sem se reconstruírem todas as frases e todas as palavras compostas.

No seu livro One Language for thr World (Uma Língua para o Mundo), Mario Pei cita a opinião do Dr. Alexander Gode sobre este tema. Gode começa por escrever uma frase em interlíngua:
Le sol dice: «Io me appella sol. Io es multe brillante. Io me leva al est, e quando io me leva, il es die. Io reguarda per tu fenestra con mi oculo brillante como le auro, e io te dice quando il es tempore a levar te. E io te dice: Pigro, leva te. Io non brilla a fin que tu resta al lecto a dormir, sed que tu te leva e labora, que tu lege, e que tu te promena».
[O sol diz: «chamo-me sol. Sou muito brilhante. Nasço no Este, e quando me levanto é dia. Olho pela tua janela com o meu olho brilhante como o ouro e digo-te quando é a altura de te levantares. E digo-te: levanta-te, preguiçoso. Não brilho para que permaneças na cama, a dormir, mas para que te levantes e trabalhes, para leres e para passeares».]

Posteriormente, ele reconstrói esta passagem substituindo a maior parte das palavras por novas palavras vindas do chinês, japonês, persa, malaio, árabe e hindu. Eis o resultado:
Mata-hari yu: «Wo-ti nama mata-hari. Wo taihen brillante. Wo leva wo a est, dan toki wo leva wo, ada hari. Wo mira per ni-ti fenestra sama wo-ti mata brillante como kin, dan wo yu ni toki ada tempo a lavar ni. Dan wo yu ni: Sust, leva ni. Wo non brilla sam-rap ni tomaru a toko a nemru, sed wo brilla sam-rap ni leva ni, dan que ni saru kam, ni yomu, dan ni aruku».

A nova língua é eminentemente neutral, embora elegante e eufónica. Será útil? Infortunadamente, não. Claro, ela é difícil para os europeus porque as únicas palavras familiares que possui são es brillante, est, levar, fenestra, tempo, etc. Mas ela também é difícil, de igual modo, para os não europeus, porque os chineses apenas compreenderiam as palavras chinesas wo-ti, ni, e yu, os japoneses taihen e nemuru, os malaios mata-hari e sam-rap. Para resumir, as línguas japonesa, chinesa, malaia, hindu e árabe possuem em comum poucas palavras - naturalmente científicas -, que beberam das línguas ocidentais.

Portanto, uma língua constituída por elementos pan-globais não possui praticamente nenhumas vantagens sobre uma língua como a interlíngua, formada a partir das línguas da Europa. Então, será que os japoneses, chineses, etc., devem ser excluídos dos benefícios de uma língua auxiliar internacional? É evidente que algumas vantagens da interlíngua lhes estão vedadas. Nós não poderíamos escrever a um japonês monoglota em interlíngua esperando sermos compreendidos. Para os asiáticos, árabes e russos a interlíngua só é compreensível após algum estudo. Todavia, este estudo vale bem a pena. Em primeiro lugar, a interlíngua é uma boa introdução à mentalidade europeia. Regular e simples, ela fornece ao estudante a quintessência da estrutura e vocabulário das línguas ocidentais, livre das complicações regionais. Depois de ter aprendido interlíngua, o estudante oriental pode servir-se dela para comunicar com franceses, italianos, espanhóis, e com ingleses e americanos se tiverem inteligência linguística q.b. para a compreenderem.

Naturalmente que aprender interlíngua sozinho é mais fácil do que aprender francês, espanhol, italiano e inglês, mas se o nosso asiático quiser aprender as outras línguas europeias, verificará que a sua mestria em interlíngua facilitará muito o seu progresso nesses estudos.

Em suma: o carácter europeu da interlíngua não veda a sua utilização aos asiáticos. Este facto não tem nada de surpreendente, já que os asiáticos têm frequentemente beneficiado das descobertas e invenções ocidentais. Eles possuem (e os próprios fabricam e exportam) linhas de caminhos-de-ferro, canhões, automóveis, telefones, máquinas fotográficas, computadores, etc. Na China, as autoridades substituíram mesmo as ideias de Confúcio pelo marxismo, uma filosofia essencialmente ocidental. De igual modo, ousamos esperar que no futuro estes povos se sirvam da interlíngua para comunicarem com os países ocidentais.

[Tradução de um artigo de Brian Sexton publicado em Lingua e Vita, No. 30, 1975 e No. 62, Januario-April, 1988.]

28 Jan 2010

uma língua para a europa

Virá o dia em que os europeus falarão uma única língua? Levará a integração económica e política da Europa igualmente à integração linguística? A ideia de uma língua europeia não é assim tão recente, sendo mesmo mais antiga do que a ideia da CEE [União Europeia]; desde o séc. XVIII e, de modo particular, desde o séc. XIX que houve a tendência para a criação de uma linguagem europeia, embora limitada ao uso político, filosófico e cultural.
O próprio Leopardi escrevia em 1821: «há algum muito tempo que todas as línguas cultas da Europa possuem um grande número de vocábulos comuns, sobretudo em política e em filosofia. Já não falo de vocábulos que pertencem às ciências, onde quase toda a Europa está de acordo que eles têm vindo a formar uma espécie de mini-língua».
Respondendo aos puristas de então, implacavelmente contrários às novidades linguísticas, Leopardi previa já o processo de unificação lexical das línguas europeias ocidentais: «embora condenem e chamem bárbaros aos galicismos, isso não acontece com os europeísmos, uma vez que nunca foi bárbaro aquilo que foi próprio a todo o mundo civilizado como o uso destas palavras, que derivam dessa mesma civilização europeia».
Como se vê, Leopardi já explicava claramente o processo de europeização linguística, destinado a seguir a par e passo com a integração económica, política e cultural do nosso velho continente.

[Tradução de «Una lingua per l'Europa», de Giuseppe Pittàno, a partir da tradução de Karel Wilgenhof, «Un lingua pro Europa», incluída no verso da folha 71 das suas Notas Mixte.]

22 Jan 2010

novo representante em portugal

O secretário da Union Mundial pro Interlingua enviou-me hoje uma mensagem a confirmar a minha nomeação para novo representante da interlíngua em Portugal. Deste modo, vou substituir o engenheiro Beça e Melo, que, durante décadas, desempenhou esse papel no nosso país e a quem envio felicitações pelo seu esforço em prol da divulgação da língua auxiliar internacional por excelência. Espero estar à altura da missão que me foi confiada, tendo já no próximo mês, em Granada, uma reunião com os representantes da UMI para debatermos estratégias da sua difusão na Península Ibérica.

Mais informações aqui.

15 Jan 2010

dia internacional da interlíngua

Comemora-se hoje o dia internacional da interlíngua.

Para assinalar a efeméride, eis um belo poema de Carolo Salicto
(Karel Wilgenhof).

Defensa non necesse

Que vole facer un poeta in interlingua,
utensile certo de utilitate immense?
Il pote placer nunc a nemo, si iste lingua
ha rimas e metros in versos e strophes extense.

Poeta, declina tu via e non continua,
assi on exhorta, poemas non es jam necesse,
procrea disdigno, on dice; e on insinua
que illos importa a pena pro su interesse

private; e ille se senti como un convicto,
qui sape: poemas simila le herbas e flores,
crescente con nulle consento del cec directores.

Habente non ulle appello contra le verdicto
es isto le opinion de Carolo Salicto:
videntes recipe lor vive secrete colores.

Carolo Salicto, Volo Asymptotic, p. 10.

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Para saber o que poderá fazer em prol da interlíngua, vide:
http://www.interlingua.com/diedeinterlingua