25 Feb 2010

tao te king

I
O Tao que se procura alcançar não é próprio Tao; o nome que se lhe quer dar não é o seu nome adequado. Sem nome, representa a origem do universo; com um nome, torna-se a Mãe de todos os seres. Pelo não-ser, atinjamos o seu segredo; pelo ser, abordemos o seu acesso. Não-ser e Ser saindo de um fundo único só se diferenciam pelos seus nomes. Este fundo único chama-se Obscuridade. Obscurecer esta obscuridade, eis a porta de toda a maravilha. ......................................................................................................
Le Tao que nos essaya attinger non es le proprie Tao;
le nomine que nos vole dar lo non es su nomine adequate. Sin nomine, illo representa le origine del universo; con un nomine, illo deveni le Matre de tote le esseres. Per le non-esser que nos attinge su secreto; per le esser que nos aborda su accesso. Non-esser e esser sortiente de un sol fundo a pena se differentia per su nomines. Iste sol fundo se appella Obscuritate. Obscurar iste obscuritate, ecce le porta de omne meravilia.
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II
Todos consideram o belo como belo, é nisso que reside a sua fealdade. Todos consideram o bem como bem, é nisso que reside o seu mal. Porque o ser e o nada engendram-se o fácil e o difícil completam-se o longo e o curto formam-se um pelo outro. O alto e o baixo tocam-se. A voz e o som harmonizam-se. O antes e o depois sucedem-se. Por isso o santo adopta a táctica do não agir, e pratica o ensino sem palavra. Todas as coisas do mundo surgem sem que ele seja o autor. Produz sem se apropriar, age sem nada esperar, acabada a sua obra, a ela se não prende, e porque a ela se não prende, a sua obra permanecerá. ......................................................................................................
Omnes considera lo belle como belle, es in isto que sta su feditate. Omnes considera le ben como ben, es in isto que sta su mal. Proque le esser e le nil se genera, lo facile e lo difficile se completa, lo longe e lo curte se forma le un le altere. Lo alto e lo basso se tocca. Le voce e le sono se harmonisa lo ante e lo depost se succede. Pro isto le sancto adopta le tactica del non ager e practica le inseniamento sin parola. Tote le cosas del mundo surge sin que ille sia lor autor. [Ille] produce sin se appropriar, age sin ulle sperar, [un vice] finite su obra, a illo ille non se attacha, e proque a illo ille non se attacha, su obra remanera. _________________________________________________
[Lao Tse, Tao Te King, Lisboa, 1977]

21 Feb 2010

aphorismatica

Multe personas pensa que le corpore e le anima son separate ma iste puncto de vista es incorrecte. Le relative vita se manifesta como un parve spiral in le oceano del spirito; in le plus dense e interne puncto intra le spiral appare un nove forma – nostre corpore – e illo dispare in le invisibilitate, isto es le spirito.

In nostre tempore le plus urgente appello non se dirige a milliones de personas ma al pocos qui cerca un real sonio, grande e eterne. Illes debe mutar le obscuritate in luce, le chaos in ordine, le miseria in felicitate con le comprension del ordine del universo.

[Michio Kushi, in The Teachings of Michio Kushi, 1993 (tradução)]
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Le pace que nos cerca, fundate super confidentia decente e super effortio cooperative inter le nationes, pote esser fortificate, non per le armas de guerra ma per frumento e per coton, per lacte e per lana, per carne e per ligno, e per ris. Iste parolas es traducibile in omne lingua del terra. Istes es cosas necessari que defia iste mundo armate. D. Eisenhower (1890-1969)

Que ille que desira le pace sia preparate pro le guerra.
Vegetius
(c. 375)

Le arbores que cresce le plus lentemente produce le optime ligno. Anonyme

[B.C. Sexton, in Citationes e aphorismos, 2008]

18 Feb 2010

haikus


poetria
poeta
asceta
em contrição
que profere
no papel
silêncios
em oração

poeta,
asceta
in contrition
qui profere
sur le papiro
silentios
in oration


satori
a folha vazia
em simbiose
com a mente

le vacue folio
in symbiose
con le mente


tirésias
final mente
consigo ver
a minha cegueira

final mente
io es capace de vider
mi cecitate


zen
atravessar marés
ventos funestos
tempestades
e seguir a rota,
imperturbável,
qual ave aquática,
sem deixar rasto nem sinal

transversar mareas,
funeste ventos,
tempestas

e sequer le cammino,
imperturbabile,
como un ave aquatic,
sin lassar pista o tracias


amnésia
rever teu corpo
e anular
todos os anos
e distâncias
a percorrer

revider tu corpore
e annullar
tote le annos
e distantias
a percurrer


samsara
morte
e
renascimento
a
diferença
das
palavras

morte
e
renascentia,
le
differentia
del
parolas



agro
página branca
o campo ecológico
de cultivo do poeta

pagina blanc
le campo ecologic
pro le cultura del poeta



[Augusto Cardeal — série originalmente publicada em poetasbrasil]

15 Feb 2010

jogos matemáticos

A matemática e os quadrados do jogo de xadrez
Le mathematica e le quadratos de chaco
Toma Macovei


Le chacos es troppo de scientia pro esser un joco e troppo de joco pro esser un scientia.

Montaigne

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O jogo do xadrez apareceu na Índia, nos finais do séc. V, tendo penetrado na Europa por intermédio dos árabes.

Para mostrar o ritmo desconcertante do crescimento da progressão geométrica, comparado com o ritmo mais moderado da progressão aritmética, os matemáticos servem-se da engenhosa narração ligada à criação do tabuleiro de xadrez:

Sheran, um antigo rei da Índia, querendo recompensar o cidadão Sissa, que acabava de inventar o jogo de xadrez, pediu-lhe para ele lhe dizer o que desejava receber como recompensa.

— Ilustre monarca, disse Sissa, peço que façais colocar um grão de trigo sobre o primeiro quadrado do tabuleiro.

Logo trouxeram o grão que foi pedido.

— Agora, continuou Sissa, ordenai que coloquem dois grãos no segundo quadrado, quatro no terceiro e assim por diante, duplicando sempre o número de grãos do quadrado anterior. A recompensa que desejo é a quantidade de trigo destinada a preencher o último quadrado da minha invenção.

O rei, ou por ignorância ou por não se aperceber da consequência da progressão geométrica, sorria perante uma exigência tão modesta, pensando que Sissa era demasiado comedido e que queria divertir-se. No entanto, os matemáticos do país informaram o rei de que para encontrar a quantidade de grãos necessária para preencher o último quadrado seria preciso semear toda a superfície da terra, e que seria preciso oito vezes o fruto dessa colheita para satisfazer o desejo de Sissa.

O número de grãos de trigo para preencher a sexagésima-quarta casa do tabuleiro é composto por vinte algarismos, o que dá mais de dezoito triliões de bagos, correspondente a um bilião de toneladas.
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Le ludo del chaco ha apparite in India circa le fin del 5-e seculo e ha penetrate in Europa per le intermedio del arabes.

Pro poner in evidentia le rhythmo disconcertante de crescimento del progression geometric comparate con le plus modeste del progression arithmetic, le mathematicos se servi del narration ingeniose ligate al tabuliero de chaco:


Sheran, ancian rege de India, volente recompensar su citatano Sesa, qui veniva de inventar le ludo de chaco, le peteva dicer qual cosa ille voleva reciper como recompensa.


— Potente monarcha, diceva Sesa, io demanda que vos face placiar un grano de frumento sur le prime quadrato del tabuliero.


On presto apportava le grano demandate.


— Nunc, diceva Sesa, vole ben ordinar que on pone duo granos sur le secunde quadrato, quatro sur le tertie, etc. etc., duplicante semper le numero de granos del quadrato precedente. Mi recompensa essera le frumento destinate a plenar le ultime quadrato de mi ludo.


Le rege, ignorante o non remarcante le consequentia de iste progression geometric, surrideva coram un exigentia tanto meschin e pensava que Sesa esseva troppo modeste e voleva jocar. Ma le mathematicos del pais informava le rege que pro trovar le quantitate de granos necesse pro le ultime quadrato, on debeva seminar tote le superfacie del terra, e que octo vices le tote recolta esserea necesse pro satisfacer le avide Sesa.


Le numero de granos de frumento destinate al 64-e quadrato del planca del ludo se compone de facto in 20 cifras, plus que 18 trilliones pecias, lo que corresponde a circa 1 billion tonnas.


[Toma Macovei, in Joieles spiritual, 1994, p. 48]

homenagem

Imolação
Immolation
Al poeta García Lorca

Na arena fria
o sol dardeja
pessoas, animais,
e transcende o ambiente
da luta mortal
com tal fulgor
que se levantam
bancadas a gritar:
OLÉ!

In le frigide arena
le sol «dardea»
personas, animales,
e transcende le ambiente
del mortal lucta
con tanto fulgor
que se leva
bancos a critar:
OLÉ
!

[Carlos Soreto, in 100 Anos — Federico García LORCA:
Homenagem dos Poetas Portugueses – Antologia
Lisboa: Universitária Editora, 1998, p. 298]

12 Feb 2010

por granada

EM GRANADA...

Em Granada, na taverna de El Rey Chico,
ceámos caracóis.
Era no Outono, num Outono rico
de folhas secas a curtir aos sóis...

Em Granada — nem sei como te conte —
era a minha obsessão
quedar-me sem sentir, ser estátua de fonte,
diluir-me em frescura e diluir-me em som.

Quis meter meu desejo num convento
em Granada la vieja.
Vestir-te de clarisse e adorar-te de lento,
numa cela estival sobre o esplendor da vega.

Na Granada das torres cor de sangue,
com trágicos jardins,
adormecias de fadiga, exangue,
e tonta do perfume dos jasmins.

Lia contigo Las Moradas, Santa Teresa,
— Granada monacal! —
e era o meu desejo uma ábside acesa,
uma rosácea, um vitral.

Emagrecidos, uma sesta ardente,
— Granada das quimeras! —
errámos no Albeycim, pobre par penitente,
e eu dava à tua sede os frutos das chumberas.

Foi queimada de sol, toda contra um cipreste,
— luxuriosa Granada! —
com vozes de água no ar, como na Vila de Este,
que a carne te doeu, e alma abandonada...

O nosso amor beijava as formas namoradas
da Granada nocturna;
como nas fontes árabes, caladas,
a água, em beijo, a modelar a urna.

Vinham ao nosso carmen, sobre o Darro,
— ó Granada espectral! —
guiados pela luz do teu cigarro,
Boabdil e a corte, fantasmal...

E era de luxúria aveludada,
— ó Granada em alfombra! —
a noite de mors-amor murmurada
pela tristeza árabe da sombra.

[António Patrício — médico, diplomata, dramaturgo e poeta português. Nasceu no Porto, em 1878, e morreu em Macau, em 1930.
Este poema faz parte da sua obra Poesia Completa. Lisboa, 1980]

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Frederico García Lorca

Garcia Lorca, irmão:
Sou eu, mais uma vez...
Venho negar à humana condição
A humana pequenez
Da ingratidão.

Venho e virei enquanto houver poesia,
Povo e sonho na Ibéria.
Venho e virei à tua romaria
Oferecer-te a miséria
Duma oração lusíada e sombria.

Venho, talefe branco da Nevada.
Filho novo da Espanha!
Venho, e não digas nada;
Deixa um pobre poeta da montanha
Trazer torgas à rosa de Granada!

Indomável cigano
Dos caminhos do tempo e da ventura,
Sensual e profano,
O teu génio floresce cada ano...
Venho ver-te crescer da sepultura!

Bruxo das trevas onde alguém te quis,
Nelas arde a paixão do que escreveste!
Sete palmos de terra, e nenhum diz
Que secou a raiz,
Que partiste ou morreste!

Uma luz que é o oceano da verdade
Abre-se onde os teus versos vão abrindo...
A eternidade,
Na pureza da tua claridade,
Sobre o teu nome, universal, caindo...

E o peregrino vem.
Reza devotamente,
Põe no altar o que tem,
E regressa mais livre e mais contente...
Assim faço, também!

[Miguel Torga, «Frederico García Lorca»,
in Poemas Ibéricos. Coimbra, 1982]

8 Feb 2010

pessoa a ensinar

Há três maneiras de ensinar uma coisa a alguém
Há três maneiras de ensinar uma coisa a alguém: dizer-lhe essa coisa, provar-lhe essa coisa, sugerir-lhe essa coisa. O primeiro processo é o processo dogmático; emprega-se legitimamente ao ensinar coisas sabidas e provadas a criaturas incapazes, por infância ou ignorância, de compreender as provas, se se apresentassem. Assim se ensina gramática às crianças ou aos pouco instruídos, sem entrar em explicações, que seriam inúteis e resultariam frustes, sobre os fundamentos lógicos ou filológicos da gramática.
O segundo processo é o processo filosófico; emprega-se legitimamente para transmitir a pessoas com plena formação mental certos ensinamentos, ou cientificamente assentes mas desconhecidos do discípulo, ou puramente teóricos e que portanto ele tem que compreender em seus fundamentos, para os poder criticar.
Il ha tres manieras pro inseniar un cosa a alicuno: dicer, provar, o suggerer le ille cosa. Le prime processo es le processo dogmatic; on se emplea legitimemente pro inseniar cosas cognoscite e provate a creaturas incapace, debite a lor infantia o ignorantia, de comprender le provas si illos se presenta. Assi on insenia grammatica al pueros o al pauc instruite, sin entrar in explicationes que esserea inutile e devenirea «frustranee» super le fundamentos logic o philologic del grammatica.
Le secunde processo es le processo philosophic; on se emplea legitimemente pro transmitter a personas con plen formation mental certe inseniamentos scientificamente basate tamen incognoscibile del discipulo o purmente theoretic e que, assi, ille debe comprender in su fundamentos pro los poter criticar.


O terceiro processo é o processo simbólico; emprega-se legitimamente para transmitir a pessoas com plena formação mental ensinamentos que exigem a posse de qualidades mentais superiores ao simples raciocínio, e o símbolo é dado para que essa pessoa, recorrendo ao que nela haja de embrionário dessas qualidades, ao mesmo tempo as desenvolva em si e vá compreendendo, por esse mesmo desenvolvimento, o sentido do símbolo que lhe foi dado.
Le tertie processo es le processo symbolic; on se emplea legitimemente pro transmitter a personas con plen formation mental inseniamentos que exige haber mental qualitates superior al simple rationamento, essente le symbolo date pro que ille persona, recurrente al embryonari que ille habe de ille qualitates, al mesme tempore que las developpa in si ipse e va comprendente, trans ille mesme developpamento, le senso del symbolo que le ha essite donate.

O primeiro processo dirige-se à memória e chama-se ensino; o segundo à inteligencia e chama-se demonstração; o terceiro à intuição. A este terceiro processo chama-se iniciação.
Le prime processo se dirige al memoria e se appella inseniamento; le secunde al intelligentia e se appella demonstration; le tertie al intuition. A iste tertie processo processo on appella initiation.

II

Um símbolo é uma coisa exposta em termos de outra coisa, entendendo-se que a segunda (meio de expressão) é por natureza inferior à primeira (coisa expressa).
Un symbolo es un cosa exponite in terminos de un altere cosa, intendente se que le secunde (medio de expression) es per natura inferior al prime (cosa exponite).

[s.d.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa
Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990. - 84.
+ A Lição, quadro de Pablo Picasso]

7 Feb 2010

colombo e o ovo

O ovo de Colombo
Le ovo de Columbo
Toma Macovei
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Por volta de finais do séc. XV, pouco tempo depois da descoberta do Novo Mundo – a futura América – pelo navegador Cristóvão Colombo, por todo o lado não se falava de outra coisa que não das novas regiões descobertas.

Certa ocasião em que Colombo se encontrava numa festa, surgiu mais uma vez a discussão sobre a descoberta das novas regiões. Então, um dos convivas, cheio de inveja e malícia, disse:
— Não percebemos por que razão se faz tanto caso dessa dita grande descoberta. Nada mais simples do que isso.
— Como assim? — perguntou Colombo calmamente.
— Isso deve ter sido apenas uma questão de te ter vindo à mente, assim... ir sobre água, em linha recta, e sempre em frente... E foi tudo.

Sobre a mesa havia alguns ovos cozidos; Colombo agarrou num deles, sorriu, virou-se para os que o difamavam e disse-lhes:
— Qual de vós consegue fazer com que este ovo se segure de pé no alto de uma das vossas cabeças?

Os seus companheiros tentaram alternadamente, mas nenhum deles conseguiu, tendo todos desistido de conseguir o feito. Então, Colombo agarrou no ovo e, batendo com uma das pontas numa das esquinas da mesa, achatou-o um pouco e colocou-o de pé. Todos começaram a murmurar:
— M... as isso também nós sabíamos! Nada mais simples!
— Certamente que sim! — retorquiu Colombo, sorrindo maliciosamente. — Nada mais simples. Exactamente como aconteceu com a descoberta das novas regiões. Tudo o que tendes a fazer é apenas fazer aparecer isso na vossa mente... e pô-lo em aplicação.
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Ab circa le fin del XV-e seculo, curte tempore post le discoperta del nove mundo – le America futur – per la grande navigator Christophoro Columbo ubique le homines non habeva altere subjecto de discussion que le nove regiones.
Unquam, quando Columbo se trovava a un partita de placer, emergeva de novo le discussion re le discoperta del nove regiones. Alcuno inter le convivas, maximo invidiose e plen de malitia, diceva:

"Nos non comprende proque on face tante caso pro iste si-dicite grande discoperta. Nihil ha essite plus simple que arrivar a illo."

— "Como assi?" Demandava Columbo calmemente.

— "Illo ha debite solmente venir a tu pensata, assi... ir sur le aqua rectemente in avante... e isto ha essite toto."

Sur le tabula era qualque ovos cocite. Columbo prendeva un ovo, surrideva e diceva a illes qui le diffamava:

— "Qui inter vos pote facer que iste ovo sta recte in alto sur un del capites?"

Illes essayava alternativemente omnes, sed necuno succedeva, e totes debeva renunciar. Tunc Columbo prendeva le ovo e, colpante lo contra le tabula a un capite, lo applattava un pauco e lo establiva rectemente.
Omnes comenciava critar:

— "S....ed, isto anque nos sapeva ! Nihil plus simple."

— "Certo que si!" les respondeva Columbo, surridente ludificantemente, — "nihil plus simple — exactemente como anque le discoperta del nove regiones. Vos debe solmente facer isto apparer in vostre pensata… E poner lo in application."

[Tradução livre do conto «Le ovo de Columbo», de Toma Macovei, inserido no livro Joieles spiritual (Jóias espirituais), publicado em 1995 pelo Servicio de Libros UMI e com ilustração de Henrik Breinstrup]

6 Feb 2010

paz

Muita paz para ti
Das ondas pacíficas do oceano

Muita paz para ti
Do ar subtil que te cerca

Muita paz para ti
Da calma profunda da terra

Muita paz para ti
Da radiação apolínea das estrelas

Paz profunda para ti
Do filho da paz.
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Multe pace pro te
Ab le undas del oceano

Multe pace pro te
Ab le subtil aere que te circumveni

Multe pace pro te
Ab le profunde calma del terra

Multe pace pro te
Ab le apollinee radiation del stellas

Profunde pace pro te
Ab le filio del pace.

[Tradução de uma prece celta]

a confusão das línguas

A torre de Babel (Génesis 11, 1–9)
1 In le integre Terra habeva solmente un lingua, essente exprimite per medio del mesme parolas que totes percipeva. 2 Emigrante ab le Oriente, illes trovava un plana in le terra de Chinear e ibi se establiva. 3 Alora, illes diceva le unes le alteres: «vamos facer briccas e cocer los in le foco.» E se serviva de illos in vice de petra e del bitumine faceva beton. 4 Post illes diceva: «vamos construer un urbe e un turre si alte que attinge le celo e nos face famose; assi nos evitara esser dispersate per tote le superfacie del Terra.»
5 Le Senior, tamen, descendeva, a fin de vider le urbe e le turre que illes edificava. 6 E Ille ha dicite: «illes es a pena un populo e parla un sol lingua; si illes on ha arrivate a isto nil les va impedir, in le futuro, de facer lo que illes ben intende. 7 Vamos, assi, descender e confunder lor lingua, in modo que illes non arrivara a comprender se le unes le alteres.»
8 E de iste modo les dispersava Jehovah de ibi per tote le superficie del Terra, essente suspense le construction del urbe. 9 Pro isto su nomine es Babel, viste haber essite ibi que le Senior a confundite le lingua de tote le habitantes da Terra, e tamben ha essite de ibi que Ille les dispersava per le superfacie del integre Terra.

1 Em toda a Terra, havia somente uma língua, expressa por palavras que todos entendiam. 2 Emigrando do Oriente, encontraram uma planície na terra de Chinear e aí se fixaram. 3 Então, disseram uns para os outros: «vamos fazer tijolos e cozê-los no fogo.» E serviram-se deles em vez da pedra, e do betume fizeram argamassa. 4 Depois disseram: «vamos construir uma cidade e uma torre tão alta que chegue ao céu e nos faça famosos; assim evitaremos dispersar-nos por toda a superfície da Terra.»
5 O Senhor, porém, desceu, a fim de ver a cidade e a torre que estavam a edificar. 6 E disse para si: «eles constituem apenas um povo e falam uma única língua; se levaram isto a cabo, nada os impedirá, de futuro, de fazerem o que bem entenderem. 7 Vamos, pois, descer e baralhar-lhes a língua, de modo que não se consigam compreender uns aos outros.»
8 E assim Iavé os dispersou dali por toda a superfície da Terra, tendo sido suspensa a construção da cidade. 9 Por isso, lhe foi dado o nome de Babel, visto ter sido lá que o Senhor confundiu a língua de todos os habitantes da Terra, e foi também daí que Iavé os dispersou pela superfície de toda a Terra.

[Nota: esta é uma tradução livre, feita a partir da obra Biblia Comentada (o famoso «Texto de Nácar-Colunga») pelos Professores de Salamanca e editada em Madrid em 1962. A ilustração é uma gravura de Gustave Doré]

a paixão da língua pela poesia

INTERLINGUAMOR

Io ama con passion del carne,
ecstase de spirito e placer de fruition
Le gusto dulce de iste lingua intra mi bucca:
Follia del sensos, expression de mi actos;
Carneval e meditation unite
Per le dialectica vibrante del signos verbalisate.
Io vole haber lo libere percurrente mi corpore
Per undas de energia, spasmos de allegressa;
Io vole haber su grammatica
Ethereemente in mi venas currente:
Io va mangiar activemente su verbos,
Alimentar me incantate per su adjectivos,
Biber inebriate-lucide in le fontana de su substantivos;
Io va devenir unic con illo.
Io vole sudar lo in cata poro, sentir lo in cata pilo.
Que illo se face mi sexte senso,
Mi septime celo, mi octave meravilia!
Lingua inquiete intra mi bucca, face te calme,
Tote le mundo es tue, tu es le scafolt del pensatas
Que construe le natura human
E que describe le infinitate del Universo splendide.
Lingua agitate, io te ama assi in tu movimentos
Que da vita al ideas.
Lingua lascive lingua corpore lingua sancte lingua spirito;
Lingua vento lingua brisa lingua lava lingua vulcano.
Io ama con passion del carne,
ecstase de spirito e placer de fruition
Le lingua inter le linguas que habita mi bucca:
Io non te traira con le latino, con le nordico, con le slavo,
Nam tu es tote le bello que illos son.
Nunc veni, dormi con me, in me, io te ama hodie e sempre;
Deman il apparera le aurora e tu transformara le mundo!

Autor: Aender dos Santos

Publicate in le revista Internovas, numero 101, anno 2001, del Union Brasilian pro Interlingua :: União Brasileira pró Interlingua
Veja mais poesia portuguesa traduzida para interlíngua, aqui.

5 Feb 2010

pensamento de pessoa

[ms. 1907?]

Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver, acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor ao coração dos homens.

Io ha pensatas que, se io poterea disvelar los e facer los viver, illos accrescerea nove luminositate al stellas, nove beltate al mundo e plus grande amor al corde del humanos.

Fernando Pessoa, poeta portugese, (1888-1935).
[Tradução de Aender dos Santos, retirada do seu blogue recolta floreal]

3 Feb 2010

a chave de ouro

Interlíngua — a chave de ouro da cultura Interlingua — le clave de auro del cultura
Toma Macovei
_________________________________________________ Tem-se dito sobre a cultura, de uma maneira espiritual, que ela é o que resta depois de esquecermos tudo o que aprendemos. Esta observação parece-nos justa em linguística, mesmo em sentido comum, para a interlíngua. In un maniera spiritual, on ha dicite re le cultura, que illo es lo que remane postquam nos oblida omne lo que nos ha apprendite. In linguistica, iste observation nos pare appropriate, mesmo in senso commun, pro interlingua. Para fazer face, pelo menos, aos impedimentos irracionais criados pela maldita diversidade linguística no nosso mundo, cada vez mais pequeno e interdependente, sacrificamos boa parte do nosso precioso tempo de juventude, partindo a cabeça com a assimilação das línguas nacionais mais difundidas (inglês, francês, espanhol, italiano, alemão e russo, etc.). Por um lado, estas línguas são a mais alta expressão dos respectivos povos mas, por outro lado, sendo criações espontâneas-irracionais, a mestria completa da sua teia de aranha de regras ortográficas e ortoépicas das numerosas nuances do sentido das palavras e das expressões idiomáticas, é quase impossível para pessoas não dotadas excepcionalmente e, sobretudo, para estrangeiros. Sobre a língua inglesa, por exemplo, com a sua pronúncia tão caprichosa, não é em vão que se brinca dizendo que, sendo acordado a um condenado à morte exprimir o seu último desejo, ele pedia apenas o tempo necessário para aprender inglês. Pro facer facie, quanto pauc, al impedimentos irrational create per le maledicte diversitate linguistic in nostre mundo de plus in plus parve e interdependente, nos sacrifica un bon parte de nostre preciose tempore del juventute, rumpente nos le capite con le assimilation del plus expandite linguas national (anglese, francese, espaniol, italiano, germano, russo etc.). De un latere, iste linguas son le plus alte expression del populos respective; ma del altere latere, illos, essente creationes spontanee-irrational, le maestrar complete de lor tela de araneo de regulas orthographic e orthoepic, del numerose nuances de senso del parolas e del expressiones idiomatic, es quasi impossibile pro le homines non exceptionalmente dotate e, super toto, pro le estranieros. Re le lingua anglese, p.ex., con su pronunciation tanto capriciose, non in van on burla que, essente accordate a un condemnate a morte de exprimer su ultime desiro, ille peteva solmente le otio pro apprender le anglese. Sabe-se bem que, apesar de todos os esforços financeiros e humanos, o actual sistema de ensino de línguas estrangeiras na escola não dá resultados satisfatórios. Felizmente, as suas regras complicadas e aborrecidas perdem-se cedo na memória; mas, contudo, fica alguma coisa. Fica a essência, o seu fundo comum. Estes detritos valiosos aplanam o caminho para a interlíngua. On sape ben que, malgrado omne le effortios financiari e human, le systema actual del inseniamento del linguas estranier in schola non da resultatos satisfactori. Felicemente, lor regulas imbroliate e enoiose se perde ab longe ab memoria; ma totevia remane alique. Remane le essentia, remane le fundo commun de istos. Iste valorose detritos lisia le via al interlingua. Segundo o seu sentido comum, a interlíngua é a média e o denominador comum de um grupo de línguas que possuem o mesmo parentesco – uma língua comum a vários povos. Sobre elas todas, contudo, a interlíngua tem a vantagem de ser uma língua universal. Com uma gramática profundamente regular usando o tesouro das palavras internacionais, ela torna-se uma língua viva e moderna que as pessoas cultas compreendem à primeira vista. Esta interlíngua não é apenas preferida, especialmente devido a essa compreensão imediata, mas também, pela medida dessa compreensão as pessoas que têm contacto com ela pela primeira vez, revelam o seu nível cultural. Secundo su senso commun, interlingua es le media e denominator commun de un gruppo de linguas habente le mesme parentela, un lingua commun inter plure populos. Inter tote istos tamen, Interlingua de IALA ha le avantage que illo es un lingua natural, synthese del linguas neo-latin, le quales constitue mesmo le base del cultura universal. Con un grammatica amplemente regular e usante le tresor del parolas international, illo deveni un lingua vive e moderne que le homines culte comprende a prime vista. Specialmente pro tal comprensibilitate immediate, iste Interlingua non solmente es preferite inter le linguas ponte, sed etiam le mesura de iste comprension, pro le personas qui face pro le prime vice su cognoscentia, indica mesmo lor nivello cultural. Tem-se dito que a maior maravilha criada pelo homem é o livro. Ora bem, para a organização de um mundo melhor, a interlíngua é, com certeza, a segunda grande maravilha. Ela é a chave de ouro do conhecimento, com a qual se abre a larga porta da boa compreensão entre os povos, do florescimento sem precedência da cultura. On ha dicite que le plus grande meravilia create per le homine es le libro. Eh ben, pro le organisar de un mundo melior, Interlingua es certo le secunde grande meravilia. Illo es le clave de auro del sagessa, per le qual on aperi le large porta del bon comprension inter le populos, del floration sin precedentia del cultura. Hoje, dificilmente podemos imaginar quão maravilhoso se mostra o mundo quando a interlíngua se tornar objecto de estudo nas escolas de todos os países, quando ela for a língua da diplomacia e dos encontros internacionais, onde a compreensão seja directa, sem intérpretes, quando as informações importantes de todo o lado, as descobertas científicas e as novidades literárias e artísticas forem publicadas nesta língua. Basta que nos convençamos que esta verdadeira época de ouro da humanidade deve chegar e que chegará, inevitavelmente. Difficilemente nos pote imaginar nos hodie, quanto meraviliose se monstrara le mundo quando Interlingua va devenir objecto de studio in le scholas de omne le paises, quando isto sera le lingua del diplomatia e del incontros international, in le quales le comprension sia directe, sin interpretes, quando le informationes importante de ubique, le discopertas scientific e le novas litterari e artistic sera publicate per iste lingua. Il es assatis que nos sia convincite que iste ver epocha de auro del humanitate debe venir, e que illo venira infallibilemente.

as 5 famosas teses

Alexander Gode, o grande arquitecto da interlíngua, escrevia nos anos 60 do século passado as suas famosas «Cinco Teses a Pregar nas Portas de Babel» («Five Theses to Hammer on the Gates of Babel», International Language Review, no. 29-30, octobre 1962-martio 1963 // Cinque theses a clavar ad le portas de Babel), um ensaio filosófico sobre o labirinto das línguas e o papel da interlíngua na comunicação humana e mundial.

Mais recentemente, em 2005, «Le Oculo Interlinguistic» terá recebido uma carta que, a fazer fé no autor do sítio, teria vindo de um leitor português a desempenhar funções na UE, em Bruxelas. É essa carta, glosando as famosas teses de Gode, que aqui se transcreve (com pequenas correcções) e se traduz para interlíngua.
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Recebemos uma carta de um leitor de Bruxelas, que deseja permanecer anónimo, e que excepcionalmente vamos publicar.

ALGUNS TERRORISTAS INTERLINGUISTAS
Caro Oculo, sou um (vosso) fiel leitor transferido há pouco tempo para Bruxelas, onde trabalho na EU (não posso revelar o meu nome, porque quando vim para cá, o bravo italiano que eu substituí, disse-me: «lembra-te de que estás aqui, como todos nós, para BARRAR o caminho às ideias simples e boas e, sobretudo, para que não sejam custosas. Pode dizer-se que te escolhemos porque tens algo de BARRANTE em ti, uh, uh (ele é muito engraçado) mas ninguém pode saber isso»). O trabalho é penoso, mas eu estaria contente se não tivesse ocorrido um facto lamentável: ontem à noite alguns terroristas interlinguistas aproximaram-se do meu gabinete com um martelo na mão e alguns cartazes debaixo do braço. Obviamente que o serviço de segurança agiu logo, embora eles tenham dito que os cartazes eram apenas cinco teses para pregar nas portas de Babel. Deveríamos admitir que a tarefa era justa (com 20 línguas, a publicação de apenas o aviso «é proibido mijar fora do penico» [nos cinzeiros] leva um mês a ser feita e (custa) um milhão de euros, mas a seguir eu próprio agarrei nos cartazes, tendo-os examinado de seguida. Era claramente material de propaganda subversiva, que falava de uma misteriosa língua-ponte que poderia ser compreendida sem estudo pela maioria dos cidadãos europeus, e com pouco estudo para os outros. Naturalmente, escondi os cartazes, porque — vocês não vão acreditar — há vários cidadãos crédulos que podem ser confundidos por estas fábulas para estúpidos. Na sua opinião, acha que fiz bem?

PS Um destes charlatães, o mais velho, chama-se – creio – «Gaude» ou «Gode», ou qualquer coisa assim. Se ele tem com que se regozijar, na verdade não sei.
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Nos recipeva ab un lector de Bruxelles, qui vole restar anonyme, un littera que nos exceptionalmente va pubblicar.

ALICUN TERRORISTAS INTERLINGUISTIC...
Car Oculo, io es un fidel lector portugese desde pauc tempore transplantate a Bruxelles, ubi io travalia in le Union Europee (io non pote revelar mi nomine, quia quando io veniva hic le italiano prode que io substitueva me ha dicite: «recorda, tu es hic como tote nos pro BARRAR le strata al ideas bon, simple e super toto incostose. On pote dicer que nos te seligeva quia tu ha aliquid de BARRANTE in te, uh uh, (ille es multo facete) ma nemo pote saper lo.»). Le labor es fatigante, ma io esserea gaudiose si non succedeva un facto regrettabile: heri vespera alicun terroristas interlinguistic se approximava a mi bureau con un martello in mano e alcun tabellas sub le brachio. Obviemente, le servicio de securitate ha intervenite subito, ma illes diceva que iste tabellas esseva solmente cinque theses a clavar ad le portas de Babel. Nos debeva admitter que le posto esseva juste (con 20 linguas la publication anque solo del aviso «il es prohibite de urinar in le cinerieros» prende un mense e un million de euros), ma pois io faceva sequestrar le mesme tabellas, e postea io los examinava. Il esseva clarmente material de propaganda subversive, que parla de un mysteriose lingua-ponte que poterea esser comprendite sin studio per le major parte del citatanos europee, e con pauc studio per le alteres. Naturalmente io secretava le tabellas, quia – vos non lo credera – il es plure citatanos credule que pote esser turbate per iste fabulas pro stupides. Esque vos opina, faceva io bon?
P.S. Un de iste charlatans, le plus vetule, se appella – io crede – «Gaude», «Gode» o similar. Que ille ha que gauder, io vermente non sape.

dia de s. brás

A Igreja Católica celebra hoje o dia de S. Brás, bispo, médico e mártir que morreu decapitado em 316, durante as ferozes perseguições ordenadas pelo imperador Licínio.
O seu culto começou no séc. VIII, e conta a tradição que salvou uma criança de morrer asfixiada por uma espinha de peixe. Aparece representado pelos hábitos episcopais e com duas velas, em cruz, que lhe teriam sido levadas pela mãe da criança aquando do seu encarceramento. É invocado contra as enfermidades da garganta e contra os furacões.
Protector de: pastores, agricultores e laringologistas (otorrinos).

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Algumas personagens célebres que nasceram neste dia: D. Ximenes Belo, bispo e Nobel da Paz; Fernando Guimarães, poeta e escritor; Georg Trakl, poeta.

Duas citações de D. Ximenes Belo:

A paz global actual é apenas uma utopia devido a crescente crise social, fome, pobreza, injustiça social, conflitos armados, doenças e a infinidade das guerras em todo o mundo em nome dessa paz global. Essa paz, quase utópica só poderia ser reconstruída a partir do coração de cada um de nós, das famílias e das comunidades, a fim de atingirmos a verdadeira paz global baseada no Amor, na Justiça e no respeito pelos Direitos Humanos.

Le pace actual global es a pena un utopia a causa del crescente crise social, del fame, del povressa, del injustitia social, del conflictos armate, del maladias e del infinitate de guerras in nomine de ille mesme
global pace . Ille pace, quasi utopic, solmente poterea esser reconstruite partiente ab le core de cata uno, del familias e del communitates, a fin de nos attinger le ver pace global basate sur le amor, le justitia, e sur le respecto del derectos human.

A educação para a paz começa, primeiramente na família, na escola e depois para a sociedade.

Le education pro le pace comencia primarimente in le familia, in le schola, e post in le societate.


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Poema de Fernando Guimarães (Tratado de Harmonia, Porto: Editora Justiça e Paz, 1998), à memória de Georg Trakl:

GEORG TRAKL
A estranha manhã aparece de novo no pesadelo de alguém. Psalm

Refiro-me à noite. Há muito que sonhávamos com a mesma
transparência
de um rio onde principias a caminhar sozinho para que fosse
simples
o início de um nome. Sabias escutá-lo quando vinha de novo
ao teu encontro esse rosto
que por ser igual ao teu poderias um dia amar. Procuravas o
rumor
das casas, a pesada culpa que trazias contigo ao longo de uma
praia, a sombra
da irmã: assim adormeceste para te conservares perto da
nudez que só tu havias
de perder. A mesma hora despede-se agora e caminhavas
devagar para sabermos
como se tornaram submissas as tuas mãos; nelas não foram
semelhantes as palavras à sombra que chega
pelo interior do sangue para que possa existir ainda uma
carícia? Vieram dizer apenas
como nos ombros havíamos de encontrar a inclinação para a
morte, o movimento que se torna leva
para trazer a despedida das aves que atravessaram a noite, o
aceno que principia
a despertar-nos em silêncio. O que ficaste a olhar era para nós
uma ferida.