25 Feb 2010

tao te king

I
O Tao que se procura alcançar não é próprio Tao; o nome que se lhe quer dar não é o seu nome adequado. Sem nome, representa a origem do universo; com um nome, torna-se a Mãe de todos os seres. Pelo não-ser, atinjamos o seu segredo; pelo ser, abordemos o seu acesso. Não-ser e Ser saindo de um fundo único só se diferenciam pelos seus nomes. Este fundo único chama-se Obscuridade. Obscurecer esta obscuridade, eis a porta de toda a maravilha. ......................................................................................................
Le Tao que nos essaya attinger non es le proprie Tao;
le nomine que nos vole dar lo non es su nomine adequate. Sin nomine, illo representa le origine del universo; con un nomine, illo deveni le Matre de tote le esseres. Per le non-esser que nos attinge su secreto; per le esser que nos aborda su accesso. Non-esser e esser sortiente de un sol fundo a pena se differentia per su nomines. Iste sol fundo se appella Obscuritate. Obscurar iste obscuritate, ecce le porta de omne meravilia.
_________________________________________________
II
Todos consideram o belo como belo, é nisso que reside a sua fealdade. Todos consideram o bem como bem, é nisso que reside o seu mal. Porque o ser e o nada engendram-se o fácil e o difícil completam-se o longo e o curto formam-se um pelo outro. O alto e o baixo tocam-se. A voz e o som harmonizam-se. O antes e o depois sucedem-se. Por isso o santo adopta a táctica do não agir, e pratica o ensino sem palavra. Todas as coisas do mundo surgem sem que ele seja o autor. Produz sem se apropriar, age sem nada esperar, acabada a sua obra, a ela se não prende, e porque a ela se não prende, a sua obra permanecerá. ......................................................................................................
Omnes considera lo belle como belle, es in isto que sta su feditate. Omnes considera le ben como ben, es in isto que sta su mal. Proque le esser e le nil se genera, lo facile e lo difficile se completa, lo longe e lo curte se forma le un le altere. Lo alto e lo basso se tocca. Le voce e le sono se harmonisa lo ante e lo depost se succede. Pro isto le sancto adopta le tactica del non ager e practica le inseniamento sin parola. Tote le cosas del mundo surge sin que ille sia lor autor. [Ille] produce sin se appropriar, age sin ulle sperar, [un vice] finite su obra, a illo ille non se attacha, e proque a illo ille non se attacha, su obra remanera. _________________________________________________
[Lao Tse, Tao Te King, Lisboa, 1977]

21 Feb 2010

aphorismatica

Multe personas pensa que le corpore e le anima son separate ma iste puncto de vista es incorrecte. Le relative vita se manifesta como un parve spiral in le oceano del spirito; in le plus dense e interne puncto intra le spiral appare un nove forma – nostre corpore – e illo dispare in le invisibilitate, isto es le spirito.

In nostre tempore le plus urgente appello non se dirige a milliones de personas ma al pocos qui cerca un real sonio, grande e eterne. Illes debe mutar le obscuritate in luce, le chaos in ordine, le miseria in felicitate con le comprension del ordine del universo.

[Michio Kushi, in The Teachings of Michio Kushi, 1993 (tradução)]
_________________________________________________
Le pace que nos cerca, fundate super confidentia decente e super effortio cooperative inter le nationes, pote esser fortificate, non per le armas de guerra ma per frumento e per coton, per lacte e per lana, per carne e per ligno, e per ris. Iste parolas es traducibile in omne lingua del terra. Istes es cosas necessari que defia iste mundo armate. D. Eisenhower (1890-1969)

Que ille que desira le pace sia preparate pro le guerra.
Vegetius
(c. 375)

Le arbores que cresce le plus lentemente produce le optime ligno. Anonyme

[B.C. Sexton, in Citationes e aphorismos, 2008]

18 Feb 2010

haikus


poetria
poeta
asceta
em contrição
que profere
no papel
silêncios
em oração

poeta,
asceta
in contrition
qui profere
sur le papiro
silentios
in oration


satori
a folha vazia
em simbiose
com a mente

le vacue folio
in symbiose
con le mente


tirésias
final mente
consigo ver
a minha cegueira

final mente
io es capace de vider
mi cecitate


zen
atravessar marés
ventos funestos
tempestades
e seguir a rota,
imperturbável,
qual ave aquática,
sem deixar rasto nem sinal

transversar mareas,
funeste ventos,
tempestas

e sequer le cammino,
imperturbabile,
como un ave aquatic,
sin lassar pista o tracias


amnésia
rever teu corpo
e anular
todos os anos
e distâncias
a percorrer

revider tu corpore
e annullar
tote le annos
e distantias
a percurrer


samsara
morte
e
renascimento
a
diferença
das
palavras

morte
e
renascentia,
le
differentia
del
parolas



agro
página branca
o campo ecológico
de cultivo do poeta

pagina blanc
le campo ecologic
pro le cultura del poeta



[Augusto Cardeal — série originalmente publicada em poetasbrasil]

15 Feb 2010

jogos matemáticos

A matemática e os quadrados do jogo de xadrez
Le mathematica e le quadratos de chaco
Toma Macovei


Le chacos es troppo de scientia pro esser un joco e troppo de joco pro esser un scientia.

Montaigne

________________________________________________
O jogo do xadrez apareceu na Índia, nos finais do séc. V, tendo penetrado na Europa por intermédio dos árabes.

Para mostrar o ritmo desconcertante do crescimento da progressão geométrica, comparado com o ritmo mais moderado da progressão aritmética, os matemáticos servem-se da engenhosa narração ligada à criação do tabuleiro de xadrez:

Sheran, um antigo rei da Índia, querendo recompensar o cidadão Sissa, que acabava de inventar o jogo de xadrez, pediu-lhe para ele lhe dizer o que desejava receber como recompensa.

— Ilustre monarca, disse Sissa, peço que façais colocar um grão de trigo sobre o primeiro quadrado do tabuleiro.

Logo trouxeram o grão que foi pedido.

— Agora, continuou Sissa, ordenai que coloquem dois grãos no segundo quadrado, quatro no terceiro e assim por diante, duplicando sempre o número de grãos do quadrado anterior. A recompensa que desejo é a quantidade de trigo destinada a preencher o último quadrado da minha invenção.

O rei, ou por ignorância ou por não se aperceber da consequência da progressão geométrica, sorria perante uma exigência tão modesta, pensando que Sissa era demasiado comedido e que queria divertir-se. No entanto, os matemáticos do país informaram o rei de que para encontrar a quantidade de grãos necessária para preencher o último quadrado seria preciso semear toda a superfície da terra, e que seria preciso oito vezes o fruto dessa colheita para satisfazer o desejo de Sissa.

O número de grãos de trigo para preencher a sexagésima-quarta casa do tabuleiro é composto por vinte algarismos, o que dá mais de dezoito triliões de bagos, correspondente a um bilião de toneladas.
________________________________________________
Le ludo del chaco ha apparite in India circa le fin del 5-e seculo e ha penetrate in Europa per le intermedio del arabes.

Pro poner in evidentia le rhythmo disconcertante de crescimento del progression geometric comparate con le plus modeste del progression arithmetic, le mathematicos se servi del narration ingeniose ligate al tabuliero de chaco:


Sheran, ancian rege de India, volente recompensar su citatano Sesa, qui veniva de inventar le ludo de chaco, le peteva dicer qual cosa ille voleva reciper como recompensa.


— Potente monarcha, diceva Sesa, io demanda que vos face placiar un grano de frumento sur le prime quadrato del tabuliero.


On presto apportava le grano demandate.


— Nunc, diceva Sesa, vole ben ordinar que on pone duo granos sur le secunde quadrato, quatro sur le tertie, etc. etc., duplicante semper le numero de granos del quadrato precedente. Mi recompensa essera le frumento destinate a plenar le ultime quadrato de mi ludo.


Le rege, ignorante o non remarcante le consequentia de iste progression geometric, surrideva coram un exigentia tanto meschin e pensava que Sesa esseva troppo modeste e voleva jocar. Ma le mathematicos del pais informava le rege que pro trovar le quantitate de granos necesse pro le ultime quadrato, on debeva seminar tote le superfacie del terra, e que octo vices le tote recolta esserea necesse pro satisfacer le avide Sesa.


Le numero de granos de frumento destinate al 64-e quadrato del planca del ludo se compone de facto in 20 cifras, plus que 18 trilliones pecias, lo que corresponde a circa 1 billion tonnas.


[Toma Macovei, in Joieles spiritual, 1994, p. 48]

homenagem

Imolação
Immolation
Al poeta García Lorca

Na arena fria
o sol dardeja
pessoas, animais,
e transcende o ambiente
da luta mortal
com tal fulgor
que se levantam
bancadas a gritar:
OLÉ!

In le frigide arena
le sol «dardea»
personas, animales,
e transcende le ambiente
del mortal lucta
con tanto fulgor
que se leva
bancos a critar:
OLÉ
!

[Carlos Soreto, in 100 Anos — Federico García LORCA:
Homenagem dos Poetas Portugueses – Antologia
Lisboa: Universitária Editora, 1998, p. 298]

12 Feb 2010

por granada

EM GRANADA...

Em Granada, na taverna de El Rey Chico,
ceámos caracóis.
Era no Outono, num Outono rico
de folhas secas a curtir aos sóis...

Em Granada — nem sei como te conte —
era a minha obsessão
quedar-me sem sentir, ser estátua de fonte,
diluir-me em frescura e diluir-me em som.

Quis meter meu desejo num convento
em Granada la vieja.
Vestir-te de clarisse e adorar-te de lento,
numa cela estival sobre o esplendor da vega.

Na Granada das torres cor de sangue,
com trágicos jardins,
adormecias de fadiga, exangue,
e tonta do perfume dos jasmins.

Lia contigo Las Moradas, Santa Teresa,
— Granada monacal! —
e era o meu desejo uma ábside acesa,
uma rosácea, um vitral.

Emagrecidos, uma sesta ardente,
— Granada das quimeras! —
errámos no Albeycim, pobre par penitente,
e eu dava à tua sede os frutos das chumberas.

Foi queimada de sol, toda contra um cipreste,
— luxuriosa Granada! —
com vozes de água no ar, como na Vila de Este,
que a carne te doeu, e alma abandonada...

O nosso amor beijava as formas namoradas
da Granada nocturna;
como nas fontes árabes, caladas,
a água, em beijo, a modelar a urna.

Vinham ao nosso carmen, sobre o Darro,
— ó Granada espectral! —
guiados pela luz do teu cigarro,
Boabdil e a corte, fantasmal...

E era de luxúria aveludada,
— ó Granada em alfombra! —
a noite de mors-amor murmurada
pela tristeza árabe da sombra.

[António Patrício — médico, diplomata, dramaturgo e poeta português. Nasceu no Porto, em 1878, e morreu em Macau, em 1930.
Este poema faz parte da sua obra Poesia Completa. Lisboa, 1980]

 _______________________________________________

Frederico García Lorca

Garcia Lorca, irmão:
Sou eu, mais uma vez...
Venho negar à humana condição
A humana pequenez
Da ingratidão.

Venho e virei enquanto houver poesia,
Povo e sonho na Ibéria.
Venho e virei à tua romaria
Oferecer-te a miséria
Duma oração lusíada e sombria.

Venho, talefe branco da Nevada.
Filho novo da Espanha!
Venho, e não digas nada;
Deixa um pobre poeta da montanha
Trazer torgas à rosa de Granada!

Indomável cigano
Dos caminhos do tempo e da ventura,
Sensual e profano,
O teu génio floresce cada ano...
Venho ver-te crescer da sepultura!

Bruxo das trevas onde alguém te quis,
Nelas arde a paixão do que escreveste!
Sete palmos de terra, e nenhum diz
Que secou a raiz,
Que partiste ou morreste!

Uma luz que é o oceano da verdade
Abre-se onde os teus versos vão abrindo...
A eternidade,
Na pureza da tua claridade,
Sobre o teu nome, universal, caindo...

E o peregrino vem.
Reza devotamente,
Põe no altar o que tem,
E regressa mais livre e mais contente...
Assim faço, também!

[Miguel Torga, «Frederico García Lorca»,
in Poemas Ibéricos. Coimbra, 1982]

8 Feb 2010

pessoa a ensinar

Há três maneiras de ensinar uma coisa a alguém
Há três maneiras de ensinar uma coisa a alguém: dizer-lhe essa coisa, provar-lhe essa coisa, sugerir-lhe essa coisa. O primeiro processo é o processo dogmático; emprega-se legitimamente ao ensinar coisas sabidas e provadas a criaturas incapazes, por infância ou ignorância, de compreender as provas, se se apresentassem. Assim se ensina gramática às crianças ou aos pouco instruídos, sem entrar em explicações, que seriam inúteis e resultariam frustes, sobre os fundamentos lógicos ou filológicos da gramática.
O segundo processo é o processo filosófico; emprega-se legitimamente para transmitir a pessoas com plena formação mental certos ensinamentos, ou cientificamente assentes mas desconhecidos do discípulo, ou puramente teóricos e que portanto ele tem que compreender em seus fundamentos, para os poder criticar.
Il ha tres manieras pro inseniar un cosa a alicuno: dicer, provar, o suggerer le ille cosa. Le prime processo es le processo dogmatic; on se emplea legitimemente pro inseniar cosas cognoscite e provate a creaturas incapace, debite a lor infantia o ignorantia, de comprender le provas si illos se presenta. Assi on insenia grammatica al pueros o al pauc instruite, sin entrar in explicationes que esserea inutile e devenirea «frustranee» super le fundamentos logic o philologic del grammatica.
Le secunde processo es le processo philosophic; on se emplea legitimemente pro transmitter a personas con plen formation mental certe inseniamentos scientificamente basate tamen incognoscibile del discipulo o purmente theoretic e que, assi, ille debe comprender in su fundamentos pro los poter criticar.


O terceiro processo é o processo simbólico; emprega-se legitimamente para transmitir a pessoas com plena formação mental ensinamentos que exigem a posse de qualidades mentais superiores ao simples raciocínio, e o símbolo é dado para que essa pessoa, recorrendo ao que nela haja de embrionário dessas qualidades, ao mesmo tempo as desenvolva em si e vá compreendendo, por esse mesmo desenvolvimento, o sentido do símbolo que lhe foi dado.
Le tertie processo es le processo symbolic; on se emplea legitimemente pro transmitter a personas con plen formation mental inseniamentos que exige haber mental qualitates superior al simple rationamento, essente le symbolo date pro que ille persona, recurrente al embryonari que ille habe de ille qualitates, al mesme tempore que las developpa in si ipse e va comprendente, trans ille mesme developpamento, le senso del symbolo que le ha essite donate.

O primeiro processo dirige-se à memória e chama-se ensino; o segundo à inteligencia e chama-se demonstração; o terceiro à intuição. A este terceiro processo chama-se iniciação.
Le prime processo se dirige al memoria e se appella inseniamento; le secunde al intelligentia e se appella demonstration; le tertie al intuition. A iste tertie processo processo on appella initiation.

II

Um símbolo é uma coisa exposta em termos de outra coisa, entendendo-se que a segunda (meio de expressão) é por natureza inferior à primeira (coisa expressa).
Un symbolo es un cosa exponite in terminos de un altere cosa, intendente se que le secunde (medio de expression) es per natura inferior al prime (cosa exponite).

[s.d.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa
Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990. - 84.
+ A Lição, quadro de Pablo Picasso]